Lucky Luciano fez acordo com os EUA para repassar informações sobre alemães na Itália
O Brasil, sem saber, recebeu grande ajuda do mafioso ítalo-americano Lucky Luciano. Foi na 2ª Guerra Mundial, enquanto os pracinhas da Força Expedicionária Brasileira (FEB) lutavam contra alemães pelo território italiano da Sicília.
O inimigo, sabe-se, era formidável e bem equipado. Conhecia muito bem o teatro de operações, depois de anos de ocupação. Mas, do lado dos pracinhas brasileiros, estava o serviço de inteligência mafioso. Eficaz e dominando o território como só os nativos conseguem, os homens da Mano Nera (“mão negra”, a Máfia) passavam informações preciosas às Forças Aliadas.
O comandante do Quinto Exército dos Estados Unidos, general Mark Clark, recebia relatos detalhados sobre movimentos de tropas e suprimentos do Exército alemão. Grande parte dessas informações vinha dos homens e mulheres arregimentados pelo mafioso Luciano. E essa inteligência era, então, repassada para o comandante brasileiro Mascarenha de Moraes e seus homens.
Lucky Luciano estava gozando de exílio agitado em sua terra natal, em Lercara Friddi, na Sicília, quando os alemães ocuparam a região. Os invasores representavam maus negócios. Não apenas governavam com mão militar, mas também impediam as atividades lucrativas dos gângsteres.
Luciano conseguiu unir famílias mafiosas
Luciano conseguiu unir famílias mafiosas
Nascido Salvatore Lucania, em 1897, o mafioso migrou para os EUA aos dez anos. Com pais e irmãos, foi morar no Lower East Side, na baixa Manhattan, lugar por onde passaram imigrantes pobres de diversas etnias. E, no intervalo de uma década, Salvatore virou Lucky, americanizando também o nome Lucania, para Luciano.
“Lucky” significa “sortudo”, pois os meliantes do bairro acreditavam que Luciano obtivesse sucesso nos negócios por causa da sorte. Nada poderia ser mais falso. O homem era de uma inteligência super aguçada. Unia isso a uma enorme capacidade de inflingir dor e morte a seus rivais.
Se existe um legítimo “padrinho” da máfia americana, Lucky Luciano é o merecedor do título. Não só ocupou o posto de chefão da família Genovese - que ajudou a montar -, mas também foi quem teve a ideia da formação de um conselho das cinco “famílias” de Nova York.
A ideia partiu do fato de que as gangues italianas guerreavam entre si, perdendo território e se enfraquecendo diante de bandos de outras nacionalidades. Luciano ponderou que a máfia era toda italiana - se bem que seu próprio braço direito era o judeu Meyer Lansky -, portanto deveria lavar a roupa suja em casa.
Os mafiosos continuaram a ter disputas, muitas delas sangrentas, mas o conselho freou massacres maiores. E barrava também as ambições de jovens ousados - que queriam dar um golpe no poder em suas próprias organizações, matando o chefe e assumindo seu lugar. A Organização sempre tinha a última palavra em tudo.
Da máfia, nasceu Las Vegas
Essa estratégia obteve tamanho sucesso que originou também a expressão “crime organizado”. Era a bandidagem operando como empresa, com estratégias e administração de grande negócio.
Para se ter uma ideia da capacidade empreendedora e de lucros dos mafiosos, basta dizer que foi um associado de Lucky, amigo de Meyer, quem fundou Las Vegas.
O judeu Bugsy Siegel, ligado à Genovese e outras famílias, montou a cidade no deserto de Nevada, a partir de um cassino: o Flamingo. Se bem que Siegel seria assassinado por seus patrocinadores, depois de perder dinheiro na empreitada.
Famoso, rico e astuto, Luciano reinou de costa a costa nos EUA. Até que, em 1936, um promotor público em Nova York convenceu empregados do hotel Waldorf-Astoria a mentir num testemunho de que Lucky operava uma grande rede de prostíbulos desde seu quarto permanente no hotel.
Preso na penitenciária de Clinton, em Nova York, o mafioso continuou comandando a família Genovese. Mas a 2ª Guerra Mundial acabaria com a sentença correspondente a um período de 30 a 50 anos de cárcere.
Num acordo secreto com o governo americano, Luciano aceitou o exílio na Sicília, em troca de organizar seus contatos da máfia local para trabalharem contra o governo do ditador Benito Mussolini e, depois, contra os invasores alemães.
Desse modo, os brasileiros acabaram beneficiados pelo acordo americano-mafioso.
Tentáculos da máfia chegaram a Cuba
Depois da guerra, Luciano continuaria influenciando na política local, nos negócios em território americano e em novas empreitadas internacionais, especialmente no Caribe.
A competência empreendedora da organização imaginada por Lucky fez com que as famílias mafiosas tomassem a economia e política de Cuba. Transformaram a ilha num paraíso de jogo, prostituição e vícios, na base da violência e corrupção. Nessa época, Luciano, que já estava exilado na Sicília, mudou-se secretamente para Havana.
O fim das operações por lá foi provocado por Fidel Castro e sua revolução, em 1959. Luciano enfrentaria, também, um golpe na família Genovese, no início dos anos 1960. Na época, Vincent “Queixo” Gigante tomou o poder.
Em consequência dessa manobra, Lucky viu retirado seu título de “Capo di Tutti I Capi” (Chefe de Todos os Chefes) no conselho.
Ele planejava sua ofensiva para retomada de cargos e honrarias, quando teve um ataque cardíaco fulminante ao desembarcar no aeroporto de Nápoles, em 1963.
Seu corpo está enterrado no cemitério St. John, na região nova-iorquina do Queens. Até hoje, o túmulo recebe flores.(R7)
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