domingo, 30 de janeiro de 2011

Mafioso espião ajudou o Brasil na 2ª Guerra Mundial

Lucky Luciano fez acordo com os EUA para repassar informações sobre alemães na Itália

O Brasil, sem saber, recebeu grande ajuda do mafioso ítalo-americano Lucky Luciano. Foi na 2ª Guerra Mundial, enquanto os pracinhas da Força Expedicionária Brasileira (FEB) lutavam contra alemães pelo território italiano da Sicília.

O inimigo, sabe-se, era formidável e bem equipado. Conhecia muito bem o teatro de operações, depois de anos de ocupação. Mas, do lado dos pracinhas brasileiros, estava o serviço de inteligência mafioso. Eficaz e dominando o território como só os nativos conseguem, os homens da Mano Nera (“mão negra”, a Máfia) passavam informações preciosas às Forças Aliadas.

O comandante do Quinto Exército dos Estados Unidos, general Mark Clark, recebia relatos detalhados sobre movimentos de tropas e suprimentos do Exército alemão. Grande parte dessas informações vinha dos homens e mulheres arregimentados pelo mafioso Luciano. E essa inteligência era, então, repassada para o comandante brasileiro Mascarenha de Moraes e seus homens.

Lucky Luciano estava gozando de exílio agitado em sua terra natal, em Lercara Friddi, na Sicília, quando os alemães ocuparam a região. Os invasores representavam maus negócios. Não apenas governavam com mão militar, mas também impediam as atividades lucrativas dos gângsteres.

Luciano conseguiu unir famílias mafiosas 
 
Nascido Salvatore Lucania, em 1897, o mafioso migrou para os EUA aos dez anos. Com pais e irmãos, foi morar no Lower East Side, na baixa Manhattan, lugar por onde passaram imigrantes pobres de diversas etnias. E, no intervalo de uma década, Salvatore virou Lucky, americanizando também o nome Lucania, para Luciano.

“Lucky” significa “sortudo”, pois os meliantes do bairro acreditavam que Luciano obtivesse sucesso nos negócios por causa da sorte. Nada poderia ser mais falso. O homem era de uma inteligência super aguçada. Unia isso a uma enorme capacidade de inflingir dor e morte a seus rivais.

Se existe um legítimo “padrinho” da máfia americana, Lucky Luciano é o merecedor do título. Não só ocupou o posto de chefão da família Genovese - que ajudou a montar -, mas também foi quem teve a ideia da formação de um conselho das cinco “famílias” de Nova York.

A ideia partiu do fato de que as gangues italianas guerreavam entre si, perdendo território e se enfraquecendo diante de bandos de outras nacionalidades. Luciano ponderou que a máfia era toda italiana - se bem que seu próprio braço direito era o judeu Meyer Lansky -, portanto deveria lavar a roupa suja em casa.

Os mafiosos continuaram a ter disputas, muitas delas sangrentas, mas o conselho freou massacres maiores. E barrava também as ambições de jovens ousados - que queriam dar um golpe no poder em suas próprias organizações, matando o chefe e assumindo seu lugar. A Organização sempre tinha a última palavra em tudo.

Da máfia, nasceu Las Vegas 

Essa estratégia obteve tamanho sucesso que originou também a expressão “crime organizado”. Era a bandidagem operando como empresa, com estratégias e administração de grande negócio.

Para se ter uma ideia da capacidade empreendedora e de lucros dos mafiosos, basta dizer que foi um associado de Lucky, amigo de Meyer, quem fundou Las Vegas.

O judeu Bugsy Siegel, ligado à Genovese e outras famílias, montou a cidade no deserto de Nevada, a partir de um cassino: o Flamingo. Se bem que Siegel seria assassinado por seus patrocinadores, depois de perder dinheiro na empreitada.

Famoso, rico e astuto, Luciano reinou de costa a costa nos EUA. Até que, em 1936, um promotor público em Nova York convenceu empregados do hotel Waldorf-Astoria a mentir num testemunho de que Lucky operava uma grande rede de prostíbulos desde seu quarto permanente no hotel.

Preso na penitenciária de Clinton, em Nova York, o mafioso continuou comandando a família Genovese. Mas a 2ª Guerra Mundial acabaria com a sentença correspondente a um período de 30 a 50 anos de cárcere.

Num acordo secreto com o governo americano, Luciano aceitou o exílio na Sicília, em troca de organizar seus contatos da máfia local para trabalharem contra o governo do ditador Benito Mussolini e, depois, contra os invasores alemães.

Desse modo, os brasileiros acabaram beneficiados pelo acordo americano-mafioso.

Tentáculos da máfia chegaram a Cuba 

Depois da guerra, Luciano continuaria influenciando na política local, nos negócios em território americano e em novas empreitadas internacionais, especialmente no Caribe.

A competência empreendedora da organização imaginada por Lucky fez com que as famílias mafiosas tomassem a economia e política de Cuba. Transformaram a ilha num paraíso de jogo, prostituição e vícios, na base da violência e corrupção. Nessa época, Luciano, que já estava exilado na Sicília, mudou-se secretamente para Havana.

O fim das operações por lá foi provocado por Fidel Castro e sua revolução, em 1959. Luciano enfrentaria, também, um golpe na família Genovese, no início dos anos 1960. Na época, Vincent “Queixo” Gigante tomou o poder.

Em consequência dessa manobra, Lucky viu retirado seu título de “Capo di Tutti I Capi” (Chefe de Todos os Chefes) no conselho. 

Ele planejava sua ofensiva para retomada de cargos e honrarias, quando teve um ataque cardíaco fulminante ao desembarcar no aeroporto de Nápoles, em 1963.

Seu corpo está enterrado no cemitério St. John, na região nova-iorquina do Queens. Até hoje, o túmulo recebe flores.(R7)

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