quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Onda de protestos antigoverno chega à Líbia; 38 ficam feridos


Inspirados pelos protestos populares no Egito, centenas de líbios saíram às ruas de Benghazi, a segunda maior cidade do país, nesta quarta-feira para pedir a derrubada do governo do ditador Muammar Gaddafi. Segundo a imprensa local, ao menos 38 pessoas ficaram feridas em choques com forças de segurança. 

Ashur Shamis, um ativista líbio de oposição em Londres, e testemunhas disseram que os protestos começaram na terça-feira e continuaram até as primeiras horas desta quarta-feira na cidade portenha. 

Os manifestantes cantavam "Muammar é o inimigo de Deus" e "Abaixo, abaixo à corrupção e ao corrupto". Armados, policiais e partidários do governo rapidamente cercaram os manifestantes e atiraram balas de borracha, segundo Shamis. 

Os protestos na Tunísia, Egito, Iêmen e Bahrein agitou o mundo árabe e gerou uma pressão sem precedentes sobre líderes como Gaddafi, que tem estado no poder há décadas. 

As demonstração também oferecem novos desafios para os Estados Unidos, que têm interesses estratégicos em cada um desses países. Na terça-feira, o presidente americano reconheceu estar preocupado com a estabilidade da região e estimulou os governos a saírem na frente e realizarem mudanças. 

Assim como os protestos que derrubaram os ditadores da Tunísia e do Egito, ativistas líbios usaram sites de redes sociais --como o Facebook e o Twitter-- para convocar as pessoas. Eles marcaram uma grande manifestação para terça-feira. 

A agência de notícias oficial da Líbia não noticiou nada sobre os protestos antigoverno. Informou apenas que partidários de Gaddafi estavam marchando nesta quarta-feira na capital, Trípoli, em Benghazi e outras cidades.
A agência citou um comunicado divulgado pelo grupo pró-Gaddafi pedindo para "defender o líder e a revolução". O texto descreve os manifestantes antigoverno como "covardes e traidores". 

O ditador líbio tem tentado tirar seu país do isolamento. Em 2003, foi anunciado que ele estava abandonando seu programa de armas de destruição em massa, renunciando ao terrorismo e que iria compensar as vítimas do atentado de 1986 na discoteca La Belle em Berlim e da explosão de um avião da Pan Am, em 1988, sobre a cidade de Lockerbie, na Escócia. 

Essas decisões abriram a porta para relações mais amenas com o Ocidente e levantaram sanções da ONU (Organização das Nações Unidas) e dos EUA, mas Gaddafi continua enfrentado acusações de violações de direitos humanos na nação do norte da África. 

MOTIVO
Os protestos de terça e quarta aparentemente foram provocados pela falha das conversas entre o governo e um comitê representando famílias de centenas de prisioneiros mortos quando forças de segurança abriram fogo durante protestos, em 1996, em Abu Salim, a mais importante prisão da Líbia. O governo começou a pagar compensações às famílias, mas o comitê pede o julgamento dos responsáveis. 

Mas os manifestantes não se limitaram ao caso e, em vez disso, pediram por reformas políticas e econômicas amplas. 

Eles cantaram slogans contra Gaddafi e contra o premiê Baghdadi al Mahmoudi, segundo testemunhas e vídeos colocados na internet. 

O governo também planejou libertar nesta quarta-feira 110 militantes islâmicos que eram membros de um grupo que planejava derrubar Gaddafi, mas não está claro se a libertação ocorrerá como planejado devido aos protestos. 

A imprensa líbia informou que ao menos 38 pessoas ficaram feridas em confrontos em Benghazi entre manifestantes e forças de segurança. 

O jornal "Quryna, que citou o diretor do hospital local, afirma que entre os feridos estão "três sabotadores e 10 membros das forças de segurança". "Nenhum deles está em situação grave", destaca o jornal. 

GADDAFI
O ditador líbio chegou ao poder em 1969 por meio de um golpe militar e, desde então, dirige o país sem Parlamento ou Constituição. Apesar de Gaddafi afirmar ser apenas um líder revolucionário sem status oficial, ele tem poder absoluto. 

Grupos de oposição dizem que, na prática, ele tem controle direto sobre a política do país e suas forças militares e de segurança. 

"O que aconteceu no Egito e na Tunísia inspirou a juventude [líbia]", disse Shamis.(Folha de São Paulo)

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