terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Oposição rejeita diálogo e reúne mais de 200 mil no Egito


A oposição reúne nesta terça-feira mais de 200 mil na praça Tahrir, no Cairo, em um dia de megaprotestos pela queda do ditador Hosni Mubarak, no poder há 30 anos. Um dos líderes do movimento, o Nobel da Paz Mohamed ElBaradei, alertou em entrevista à TV que não vai negociar com o governo enquanto Mubarak estiver no poder e no Egito. 
 
A oposição espera reunir 1 milhão de pessoas nesta terça-feira, exatamente uma semana após o início dos protestos contra o governo autoritário no Egito e contra a pobreza e desemprego endêmicos. Além da capital Cairo, os protestos são esperados em Alexandria. 

"Mubarak vá embora para Arábia Saudita ou Bahrein", gritavam os manifestantes. "Nós não queremos você", dizia a multidão de homens, mulheres e até crianças. 

"A única coisa que aceitaremos dele é que pegue um avião e vá embora", disse o advogado Ahmed Helmi, 45. 

A rede de TV CNN afirma que os manifestantes montaram postos de checagem ao longo das ruas que levam à praça Tahrir, para evitar a chegada de policiais ou militares ao local. 

Apesar dos violentos confrontos entre manifestantes e as forças de segurança nos últimos dias, as Forças Armadas do Egito divulgaram um comunicado nesta segunda-feira admitindo o direito dos manifestantes de reivindicarem suas demandas e disseram que não usarão a força para conter os protestos. 

Helicópteros militares continuam sobrevoando a cidade e os soldados mobilizados na capital desde sexta-feira controlam os pontos de acesso. Mas as cenas são bem diferentes de sexta-feira passada (28), quando a polícia não poupou cassetetes, gás lacrimogêneo e jatos de água para conter os manifestantes. 

A concentração começou na madrugada desta terça-feira, quando mais de 5.000 pessoas chegaram à praça para passar a noite, violando o toque de recolher. 

Há boatos de que os manifestantes marchariam até o Palácio Presidencial, mas com o número de manifestantes cada vez maior, o ponto focal dos manifestos continua a praça Tahrir. 

SEM DIÁLOGO
O recém-nomeado vice-presidente Omar Suleiman, que também é chefe do serviço de inteligência, começou na segunda-feira a conversar com a oposição e prometeu reformas. 

Mas o reformista ElBaradei disse nesta terça-feira que Mubarak deve sair do país antes de qualquer diálogo começar. "Pode haver diálogo, mas ele tem que vir depois que as exigências do povo forem atendidas e a primeira delas é que o presidente Mubarak deixe [o país]", disse à TV Al Arabiya. 

"Eu espero ver o Egito pacífico e isso vai exigir como um primeiro passo a saída do presidente Mubarak. Se o presidente Mubarak sair, então tudo vai caminhar corretamente". 

ElBaradei afirmou ainda, segundo a agência de notícias France Presse, que os manifestantes querem a saída dele até sexta-feira. "Sexta-feira foi batizado de "o dia da saída". 

SEM SAÍDA
A onda de protesto no Egito entra nesta terça-feira em sua segunda semana. Inspirados na rebelião popular que derrubou o governo da Tunísia neste mês, os egípcios protestam contra a carestia, o desemprego, a desigualdade social, a corrupção e a repressão política. 

Entre os analistas políticos, a discussão não é mais se Mubarak irá deixar o cargo, mas quando e como. "A sucessão já começou", disse Steven Cook, da entidade Conselho de Relações Exteriores, no site da instituição. "O importante agora é gerenciar a saída de Mubarak, que deveria ser a mais elegante possível a esta altura." 

Os militares, que dominam a política egípcia desde a deposição da monarquia, em 1952, serão cruciais na sucessão, e alguns preveem que as Forças Armadas preservarão um poder significativo enquanto realizam reformar suficientes para desarmar os protestos. 

"A esta altura, Suleiman representa o Exército, não Mubarak", disse Fawaz Gerges, da London School of Economics. "Mubarak se tornou um ônus para o Exército. Então, a cada dia se torna mais difícil para ele permanecer no cargo." 

Os Estados Unidos e outras potências ocidentais - tradicionais aliados do governo egípcio --exigiram que Mubarak promova eleições livres. Mesmo que resista à pressão pela renúncia, parece improvável que consiga se reeleger. 

O governo norte-americano também disse que Mubarak deveria revogar a lei de emergência sob a qual governa desde 1981. 

Os EUA enviaram um representante especial, o ex-embaixador no Cairo Frank Wisner, para conversar com líderes egípcios. "A aparência e modus operandi do Egito devem mudar", disse Robert Gibbs, porta-voz da Casa Branca. 

Mas as várias décadas de repressão deixaram poucos líderes civis em condições de preencher a lacuna a ser deixada por Mubarak. 

ElBaradei se ofereceu como líder interino até a realização de eleições democráticas. Muitos egípcios, no entanto, têm restrições a ele por ter passado tanto tempo fora do país --ele vive em Viena, de onde voltou recentemente para aderir aos protestos.

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