segunda-feira, 21 de março de 2011

Itália e Alemanha evidenciam divisão sobre ação na Líbia


A maioria dos países da União Europeia (UE) defendeu nesta segunda-feira a intervenção internacional na Líbia, enquanto que a Alemanha e Itália se distanciaram e evidenciaram uma divisão nos 27 membros perante a atuação da coalizão liderada pela França, Reino Unido e Estados Unidos. O ministro de Exteriores alemão, Guido Westervelle, assegurou que as críticas expressadas pela Liga Árabe aos bombardeios da coalizão confirmam os temores que seu governo tinha manifestado.

"Nós decidimos não participar, calculamos os riscos e três dias depois a Liga Árabe já critica a intervenção. Acho que tínhamos razão", afirmou Westerwelle ao chegar a uma reunião com seus colegas comunitários em Bruxelas. A mensagem da Liga Árabe que serve a Berlim para confirmar sua postura cética foi anunciada no domingo pelo secretário-geral da organização, Amr Moussa, que assegurou que a operação realizada na Líbia "é diferente do objetivo de impor uma zona de exclusão aérea".

"Dissemos que não é preciso nenhuma operação militar", acrescentou Moussa, que pediu relatórios completos do que está passando no país norte-africano. A Alta Representante da UE, Catherine Ashton, assegurou nesta segunda-feira que as palavras do responsável da Liga Árabe foram interpretadas equivocadamente. Ashton lembrou que Moussa apoiou no sábado, durante a cúpula realizada em Paris, os ataques aéreos contra alvos militares do regime de Muammar Kadafi.

Junto a chefe da diplomacia europeia, vários ministros como a espanhola Trinidad Jiménez consideraram que a operação na Líbia "está se ajustando à legalidade internacional". Jiménez confiou em "seguir contando com o apoio da Liga Árabe" para essas ações. Nessa linha, seu colega finlandês, Alexander Stubb, lembrou que a resolução aprovada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas "dá à comunidade internacional o direito e a responsabilidade de proteger as vidas civis" e disse que isso é o que se está fazendo. O ministro sueco, Carl Bildt, declarou que não há uma divisão na UE, mas "diferentes países fazem diferentes contribuições no contexto da resolução da ONU".

No entanto, quase ao mesmo tempo o titular de Exteriores italiano, Franco Frattini, indicou que seu país quer ver se as ações desenvolvidas até agora pela coalizão "estão de acordo com a aplicação da resolução das Nações Unidas". "Não deveria ocorrer uma guerra na Líbia, deve ocorrer uma aplicação plena da resolução 1973", advertiu Frattini. O italiano considerou que "é hora de passar de uma 'coalizão de voluntários' para um enfoque mais coordenado pela Otan".

Frente a essa postura, Jiménez assinalou que "parece que o que faz mais sentido" é que a operação continue liderada pela coalizão que a começou, dado que nela participam também países árabes que não pertencem à Otan. A Aliança Atlântica, dividida pela negativa da Turquia e Alemanha a participar dos ataques contra Kadafi, discute nesta segunda-feira em Bruxelas o papel que pode desempenhar na ação internacional. "É preciso esclarecer muito rapidamente a situação", urgiu o ministro de Exteriores luxemburguês, Jean Asselborn, que considerou que a Aliança deve pronunciar-se já sobre seus planos.

Cindida entre rebeldes e forças de Kadafi, Líbia mergulha em guerra civil

Motivados pela onda de protestos que levaram à queda os longevos presidentes da Tunísia e do Egito, os líbios começaram a sair às ruas das principais cidades do país em meados de fevereiro para contestar o líder Muammar Kadafi, no comando do país desde a revolução de 1969. Entretanto, enquanto os casos tunisiano e egípcio evoluíram e se resolveram principalmente por meio protestos pacíficos, a situação da Líbia tomou contornos bem distintos, beirando uma guerra civil.

Após semanas de violentos confrontos diários em nome do controle de cidades estratégicas, a Líbia se encontrava atualmente dividida entre áreas dominadas pelas forças de Kadafi e redutos da resistência rebeldes. Mais recentemente, no entanto, os revolucionários viram seus grandes avanços a locais como Sirte e o porto petrolífero de Ras Lanuf serem minados no contra-ataque de Kadafi, que retomou áreas no centro da Líbia e se aproxima das portas de Benghazi, a capital da resistência rebelde, no leste líbio.

Essa contra-ofensiva governista mudou a postura da comunidade internacional. Até então adotando medidas mais simbólicas que efetivas, ao Conselho de Segurança da ONU aprovou em 17 de março a determinação de uma zona de exclusão aérea na Líbia. Menos de 48 horas depois, enquanto os confrontos persistiam, França, Reino Unido e Estados Unidos iniciaram ataques. Mais de mil pessoas morreram, e dezenas de milhares já fugiram do país.(Terra)

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