domingo, 2 de janeiro de 2011

XB-70 Valkyrie: o bombardeiro experimental com a melhor performance de todos os tempos


O Valkyrie foi um avião que estava décadas à frente de seu tempo. Carregava sua carga de bombas a três vezes a velocidade do som, e levou a engenharia aeronáutica dos início dos anos 60 muito além do que se acreditava ser possível. Ele chegou a ser proposto como o primeiro bombardeiro de propulsão nuclear do mundo – mas a complexidade pagaria seu preço.

O enorme B-52 Stratofortress era o bombardeiro estratégico de longo alcance dos EUA na década de 50, usado para levar as armas nucleares a qualquer lugar do mundo. O Pentágono pediu um substituto, um bombardeiro que pudesse viajar a altitudes altíssimas, carregar bombas nucleares e permanecer no ar por longos períodos. Ele também precisaria ter velocidades extremas para escapar de jatos interceptadores, a maior ameaça aos bombardeiros de longo alcance na época. Como ninguém achou que os motores a jato comuns poderiam produzir potência suficiente para atender todos os requisitos, as primeiras pesquisas concentraram-se na instalação de um reator nuclear no avião.


Isto não foi apenas um plano hipotético – o Convair B-36 Pacemaker tinha um reator nuclear funcional e voou em várias missões de testes na metade dos anos 50, muitas com o reator em atividade. Um imenso disco de chumbo separava o reator do compartimento da tripulação e o cockpit era revestido com chumbo. Os voos de teste foram usados principalmente para determinar os efeitos da radiação no avião e a capacidade de proteger a tripulação – o B-36 nunca foi realmente movido pelo reator. Os soviéticos fizeram um experimento similar usando um Tupolev Tu-119.


Assim, os primeiros projetos do que acabaria se tornando o XB-70 pedia um avião que usasse energia nuclear. Este ramo da pesquisa acabou se tornando um beco sem saída, parte porque as pesquisas e os custos de projeto eram enormes, parte porque alguém finalmente decidiu que colocar um reator nuclear em um avião militar (“sempre construído pelo preço mais baixo”, como exigem as leis em relação ao que é público) era uma receita para um desastre realmente terrível.


As vantagens do reator nuclear seria o tamanho compacto e a ausência dos enormes tanques de combustível convencional. Sem ele, como um avião de grande porte conseguiria voar rápido o bastante e ainda carregar combustível suficiente para sua missão? Depois de descartar uma solução que usava enormes tanques auxiliares repletos de combustível enriquecido com boro (HEF – High Energy Fuel), os engenheiros norte-americanos chegaram a uma ideia brilhante: usar o efeito aerodinâmico da velocidade supersônica a seu favor. A ideia chave é chamada sustentação por compressão. As ondas de choque que se formam nas bordas dos aviões supersônicos podem empurrar o avião para cima se as formas forem projetadas corretamente. Particularmente em grandes altitudes, onde o ar é rarefeito, isso resultaria em uma grande economia de combustível. O projeto final do Valkyrie usou imensas pontas de asa que dobravam-se para baixo para formar um “túnel” sob a fuselagen, canalizando e direcionando as ondas de choque. O resultado foi um avião capaz de viajar a Mach 3 em direção ao alvo e ainda reservar combustível suficiente para voltar para casa.

À primeira vista o Valkyrie não parece ser um avião desenvolvido no fim dos anos 50/começo dos anos 60. As asas delta, o canard (asa frontal auxiliar) avançado e longo e o formato esguio parecem mais algo dos anos 80 ou 90. Na verdade, uma vez que determinaram que o avião era fisicamente viável, os engenheiros precisaram encontrar ou desenvolver materiais que pudessem suportar tal desempenho. Eles não tinham compostos avançados em fibra de carbono para trabalhar. Em vez disso, o corpo do Valkyrie é feito de aço inoxidável. Uma fina pele cobre uma camada tipo colmeia que não somente é forte, mas também dissipa o calor gerado pelo voo supersônico. Algumas superfícies usam também uma liga especial conhecida como René 41.

Dois Valkyries foram construídos e largamente testados ao longo dos anos 60. Infelizmente, outras inovações tecnológicas invalidaram a razão da existência do Valkyrie. Na época o motivo era operacional: os caças-interceptadores já não eram mais a principal ameaça aos bombardeiros. Os mísseis antiaéreos (SAM) haviam tornado-se eficientes o bastante para abater aviões mesmo que estivessem voando a grandes altitudes e altas velocidades. Para piorar, o Pentágono não precisava mais de bombardeiros de longo-alcance para as armas nucleares. Eles tinham ICBMs (mísseis balísticos impossíveis de serem interceptados na época) para fazer o trabalho sujo. Logo o XB-70 nunca foi produzido em série. Os dois protótipos voaram dezenas de testes, e estes testes foram a base dos sistemas de alta velocidade e altitude desenvolvidos nos anos seguintes. O SR-71 Blackbird, o bombardeiro B-1B e outras aeronaves militares podem traçar suas origens no XB-70 Valkyrie.

Infelizmente a história do XB-70 não teve um final feliz. Em 1966 durante uma sessão de fotos aereas depois de um voo de testes, um caça F-104 atingiu a asa direita do XB-70 número 2. O caça “rolou” por cima do Valkyrie, danificando as duas asas e estabilizadores verticais antes de explodir. O Valkyrie perdeu o controle e caiu. O piloto Al White conseguiu se ejetar, mas ficou gravemente ferido, enquanto o copiloto Carl Cross acabou morrendo, assim como o piloto do F-104. O vídeo abaixo mostra uma série de fotos tiradas na ocasião e retrata a colisão, explosão e a queda do Valkyrie.

(A reportagem é do site JALOPNIK Brasil
Fontes: Cross, Robin. The Bombers. MacMillan, 1987.
Unreal Aircraft. “Lost Classics – North American XB-70 Valkyrie.”)

Não deixe de ver os vídeos no site


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